quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CURSO DE DESIGN DE MODA DA UNIP PAULISTA



Com duração de dois anos, o curso de Tecnologia em Design de Moda da UNIP existe na UNIP desde 2009 e tem um currículo carregado de disciplinas práticas, com oficinas nas quais o aluno aprende as diversas técnicas de estilismo, de desenvolvimento de coleções, modelagem, corte e costura.


Conversamos com a coordenadora do curso, Queila Ferraz Monteiro, que também é uma das principais professoras do curso e nos explica como está o mercado e como funciona a rotina de um Designer de Moda. Queila Ferraz Monteiro é estudiosa de História da Moda, é consultora de design e gestão industrial para confecção e Professora e Coordenadora dos cursos de moda da UNIP.


Queila Ferraz Monteiro, professora e coordenadora do curso de moda da UNIP.

Por dentro da UNIP: Conte-nos um pouco sobre o curso e quais são os objetivos.
Professora Queila:O curso tecnológico é um resumo de um curso que tínhamos aqui desde 2001, de quatro anos. Os cursos de Design, quer seja de Moda, de Fotografia, a área de Design tem um planejamento do MEC para que forme profissionais em dois anos, pois o mercado é carente. Uma formação mais enxuta e o Designer é um profissional que participa da criação até a comercialização. Então este curso tem como objetivo oferecer oportunidades para o aluno desenvolver as habilidades dele, se capacitar e também conhecer os aspectos do mercado, bem como alguns conhecimentos na área de criação, área de têxtil, área de modelagem, área de produção da moda e imagem, em que muitos alunos podem ir para editorial, televisão, figurino, vitrinismo, para a área de visual merchandising e também para a área de planejamento de coleção, pois eles podem trabalhar como compradores internacionais, compradores nacionais e podem trabalhar em redes de lojas que desenvolvem modelos com terceirizadores. Eles podem trabalhar também atendendo as redes via os terceiros ou eles podem trabalhar desenvolvendo modelos para as grandes redes que vão direcionar para ser feito na China, por exemplo. Atualmente temos muitos que vão para lá trabalhar.
 
Fale sobre as metodologias de ensino utilizadas no curso.
É um curso prático, porque o profissional de Moda é a alguém que tem que por a mão na massa o tempo inteiro. Então a maior parte das nossas disciplinas tem uma base teórica muito pequena para o aluno saber a função daquela ação, mas de verdade trabalhamos treinando habilidades: área de costura, área de desenho, área de modelagem, área de desenho automatizado, área de produção de imagem. "O fazer" é a nossa prioridade.  


 Apresentação de trabalhos de alunos do 2o semestre de 2013 (Foto: Vanessa Padilha)

Quais são os recursos utilizados durante as aulas?
  
Muita imagem, a nossa área precisa mostrar o que está por trás, então nós temos que trabalhar com Power Point, temos que mostrar vídeos, filmes, desfiles, que atualmente está muito fácil, está tudo acessível no Youtube, nós temos uma biblioteca bastante atualizada, máquinas de costura enfim, todo o material necessário.

Oficina de costura

Fale um pouco sobre o mercado de trabalho de São Paulo na área de moda.
São Paulo é o maior pólo de moda da América do Sul e quando pensamos em moda, temos que pensar que você cria, você produz e você vende. Então existe o eixo criação, o eixo produção que é industrialização e manufatura e o eixo venda que é a área de comercialização. Todas essas áreas elas abrem, então você pode criar: cama, mesa, banho, infantil, roupa de festa, masculino, roupa para prática esportiva, roupa pra usar no fim de semana, vestido de noiva etc. Criar toda essa área e as matérias primas, então se você for pensar, sapato, bolsa, tecido, tecido de inverno, tecido de verão, tecido de linha praia, desenvolvimento de estamparia, que é uma área de design gráfico, as cores, as cartelas de cores, os corantes, os tingimentos, os processos de lavanderia para jeans, os processos de tingimento para roupas que vão ser coloridas depois que estão prontas, estamparia para camiseta, estão dentro da área de criação. Área de produção, você vai gerenciar essa produção em larga escala pela indústria e controlar a qualidade e controlar o tempo para que ela chegue à loja na hora certa e a área de comercialização você pega desde a área de agência, que vai fazer catálogo, sites, toda a área de divulgação, a área de marketing até a área de atendimento no ponto de venda, montar a loja, todo o visual da loja, vitrine, coordenar as cores dentro da loja e planejar como é que você vira o estoque da loja a cada quinze dias pra você ter produto novo, estratégias de venda.

Quais as áreas de atuação de um profissional formado em moda?
A área de criação, a área de produção industrial, produção de imagem, comunicação e mídia e a área de comercialização nacional e internacional.

 
É muito difícil entrar para esse mercado?
É difícil começar a trabalhar sempre, o primeiro emprego é sempre difícil. Mas o que acontece é que a área de Moda é uma área de sustentabilidade para a economia brasileira, pois ela é a primeira empregadora de mão-de-obra feminina qualificada, desqualificada, mulheres casadas, enfim. As empresas informais no Brasil são as áreas que mais chamam pra o desenvolvimento da empresa informal e esta é a área de Moda, que precisa de capital pequeno pra começar, então tem muita coisa, não é só empresa, tem muitos que são empreendedores e que fazem uma faculdade, arrumam um emprego pra entender como é o mercado e logo montam o seu próprio negócio. Tem muitos também que a família já tem um pequeno negócio e os filhos vêem fazer faculdade pra poder ampliar o negócio que a mãe tem. 90% da turma já trabalha na área.

Quais as áreas mais cobiçadas pelos profissionais?

Compras. A área de compra internacional, que hoje quando se fala em compras se refere à China. Então viaja o mundo inteiro, você tem que ir para Índia comprar tecido, você tem que ir pra Coréia comprar máquinas, você vai pra China desenvolver as coisas, você vende aqui, aqui você abastece a América Latina inteira, alguma coisa da Europa, alguma coisa dos Estados Unidos, então essa área que viaja muito o pessoal tem um fascínio. E a área de agência, de produção, imagem, então ir pra revista, fazer catálogo, mexer com fotografia, mexer com passarela, mexer com manequim é um fetiche também. Então quem vai para a área de desenvolvimento de produto não vai para a área de produção de imagem, não tem as mesmas habilidades mas são duas áreas muito fortes. 

Existe uma estimativa de profissionais que se formam e trabalham na área?
É muita gente. Temos 132 escolas de Moda no Brasil. O Brasil é o país que mais tem escolas. Para terem uma idéia os Estados Unidos tem 7, então no Brasil, muitos se formam, mas aí o pessoal fica naquela história de se formar fora. Bobagem, porque o mercado brasileiro é tão particular que nenhuma formação na Inglaterra, em uma escola San Martin, que produz gente pra alta costura, vai dar conta da demanda interna, não temos esse mercado luxuoso, temos que fazer roupa pra branco, preto, japonês, italiano, gente gorda, gente magra, gente do Rio Grande do Sul, gente de Fortaleza, tem que fazer. Vende no Bom Retiro, vende em Alagoas, vende no Acre, vende por internet, tem que fazer pra esse mundo de gente, classe A, B, C, D, todo mundo compra roupa, temos uma diversidade de corpo muito grande, somos um continente. Se pensar que o brasileiro abastece a América Latina inteira de jeans e que atualmente todos o usam. Abastece de camiseta a América Latina inteira e uma parte dos Estados Unidos. Então o que se produz aqui acaba consumindo toda essa gente. O aluno que se forma começa a ser estilista, vira um empreendedor do negócio, vira gerente, por exemplo. E, posteriormente vai para o mercado de luxo. Eu trabalhei nessa área, aposento agora, por 40 anos em confecção, tem muito trabalho. 

Após a graduação, quais cursos de pós são indicados para esse tipo de profissional?
A pós-graduação é um fetiche, porque o profissional de Moda aprende no que faz e as empresas não dão o devido valor para os cursos de pós-graduação em Moda. Então o que eu acho é que o que a escola de Moda não oferece o aluno deve buscar fora. Eu acho que tem a SPM, por exemplo, tem excelentes cursos pra você entender o mercado, a GV tem curso de Moda excelente pra você montar o seu negócio, a Anhembi-Morumbi tem uma tradição de um determinado curso pra negócios, tem a FAAP, tem a Santa Marcelina que tem cursos pra criação e tem o SENAC também, mas eu vejo uma dificuldade muito grande porque o curso é assim: você tem 30 horas de disciplina pra criação, 30 horas pra plano de negócios, 30 horas pra styling, 30 horas? A pessoa precisa ter a vivência que uma faculdade tem e 30 horas não é suficiente pra ela entender o tamanho da onça, não dá, neste caso não dá certo fazer pós. Agora o que eu vejo que dá muito certo é o pessoal que faz GV, que faz Anhembi e que faz SPM porque eles atingem um grau de informação que o curso de Moda não tem tempo hábil pra dar, que é a área de gestão, a área de marketing, a área de negócio mesmo, custo, imposto, não dá. Estamos aqui formando uma pessoa pra criar e pra olhar a Moda, não dá pra ensinarmos imposto, custo, empreendedorismo, plano de negócios, importação, e-commerce... Os cursos de pós em Moda não vão te dar mais do que uma faculdade dá, a faculdade de Moda dá a vivência, aprende-se muito nessa situação, mais do que em sala de aula, porque é o trabalho que você tem que fazer, é você ter um colega com quem você troca informação, é você ver o que o outro faz, é o tecido que o outro trás e que você não conhece, é a revista que o outro tem... Então a convivência da faculdade é que eu acho que é muito interessante pra qualquer estudante de Moda, aprender com o outro, aprender em grupo.


Apresentação do TCC do quarto semestre da turma de 2012 (Foto: André Sato)

Como é trabalhar nesse universo onde é envolvido tanto dinheiro e glamour?
Não há glamour. Não há dinheiro. Você imagina o que se produz no Brasil que não passa por passarela? Muito. Completamente sem glamour. Brás, o que é o Brás? No Brás tem gente que faz calça jeans e coloca R$1,00 de lucro por peça, produz um milhão de peças/mês. Você imagina o quanto essa empresa ganha, tem de lucro. Você não sabe quem é, nunca foi desfilado, a marca não é conhecida e ninguém sai de lá, os clientes vem do Uruguai, do Paraguai, da Bolívia, vem buscar a mercadoria aqui, tem que pagar à vista. O povo sai com D-20 carregada até a tampa de calça jeans, zero glamour. Você passa lá na porta, um caminhão descendo de coisa vindo da lavanderia, é uma linha de montagem mais muito mais violenta do que uma indústria automobilística porque o volume de coisas é muito grande e assim, o volume de dinheiro que transita é muito grande. Agora quem trabalha não ganha muito dinheiro mas tirando o médico, quem de nível universitário ganha uma fortuna? Talvez um advogado e com muitos anos de carreira. Olha nem todos os advogados vão ganhar bem, nem todos os estilistas vão ganhar muito bem mas nós temos ex-alunos aqui ganhando R$17.000,00 trabalhando na Riachuelo com 14º salário, ta mal? É uma área de carreira, porque atualmente temos grandes multinacionais. Quem trabalha no Wallmart, quem trabalha na Zara, quem trabalha na C&A, são trabalhos de peso, é trabalho de executivo. Ser comprador da Riachuelo, ser comprador das Pernambucanas, ser comprador da Magazine Luiza. Quando eu tinha confecção eu tinha um cliente que tinha 150 lojas no Piauí. Ele vendia penico, bacia, feijão, vassoura, roupa. Quando essa criatura chegava todo mundo: "Alá chegou" porque você sabe o que que é comprar pra 150 lojas? É como a questão do mercado africano: as mulheres vem pro Brás uma vez por mês, as angolanas. Elas levam um avião da TAP, tira os bancos e elas levam como excesso de bagagem. Não sai daqui como exportação, compram e levam como excesso de bagagem. O que elas levam: sandália de dedo (cheia de strass claro), calcinha, grampo, shampoo, esmalte e bolsa. Todo mês vai um avião da TAP de mercadoria pra África. E quando as africanas chegam não adianta você querer fazer compra no Brás por que elas são as rainhas. Quando começa a chegar D-20 no Brás é o pessoal que vem do Cone Sul, não tem outro lugar pra vender jeans, então paraguaio, uruguaio, boliviano, venezuelano, compram aqui e eles vêm de caminhonete, entram pelo Mato Grosso, levam embora, não passam pelo comércio.

Como um profissional formado em moda é visto por outros profissionais que não tem essa formação?

É mal visto. Existe algo assim: "Fez faculdade e acha que sabe". Só que todo mundo da área tenta se formar porque o diploma é valorizado pela empresa. A área de coolhunting, por exemplo, se você não fizer uma escola você não sabe que isso existe, a área styling, cores pra montar vitrine, pra montar interior, pra fazer editorial, quem está dentro de uma fábrica não sabe desses recursos. E uma pessoa que não tem esses conhecimentos talvez não desenvolva um trabalho tão bom.  


Segundo a professora Queila, a importância do curso para quem já trabalha em moda é que muitas coisas passam batido e para quem já está na área, fazer a faculdade é uma renovação. Cita Michael Tambini, no livro "O Design do Século" , onde ele diz que a única área que o conhecimento do velho profissional é fundamental para o amadurecimento do jovem. Enquanto o velho profissional tem o domínio técnico o jovem tem o espírito criativo e artístico e um olhar visionário que o velho já não tem mais. O jovem não sabe fazer então ele é obrigado a se curvar a pessoa que trabalha na área e é dessa mescla é que sai essa coisa nova, quem já está na área ao fazer uma faculdade se renova e vai conviver com pessoas que tem experiência diferente da sua, sendo que o jovem tem uma ingenuidade, um entusiasmo que quem já está na área não tem mais, o encantamento. Então a pessoa chega e fica livre pra viver essa coisa, essa liberdade de criar sem o compromisso de mercado, volta a pensar: "puxa eu faço essa coisa automaticamente e não sabia que era feito dessa maneira", vai dar mais valor e melhora a auto-estima inclusive. 

De acordo com a professora a área de estilo é que explora mais essa parte, por que em estilo é aonde aparecem as novas tendências e o pessoal que é adolescente, que tem liberdade pra ser revoltado e que pode romper com o código normal, que isso é chique, que isso é não sei o que, o adolescente pode. Então é ai que a pessoa que já está lá, já está acomodada, já está sentada volta a conviver com a área de vanguarda. 


Professora Queila da dicas para os futuros alunos

Qual dica você daria para quem está pensando em fazer um curso parecido?
Convença seus pais que vale a pena. Se você é uma pessoa que tem uma mente criativa, não trabalhe num escritório porque você não vai ser feliz. E quem trabalha com coisas que não faz com gosto geralmente sofrem de doenças grave, vocês sabem disso. Quem faz o que gosta vai ser feliz.